Manter o espírito aberto é algo de muita importância para sermos felizes. Inserir novidades em nossa vida, ousar, criar, inventar... Verbos que se relacionam com uma palavrinha chamada "mudança".
A mudança pode ser tanto para situações pequenas, como simples hábitos, ou para situações maiores, que envolvam trabalho, por exemplo. Como é bom ter CORAGEM para mudar o que não está funcionando... O motivo de não conseguirmos mudar pode ser justamente o medo... Temos medo de que o novo possa ser pior se comparado ao o velho ruim ao qual já estamos acostumados, ou ainda, medo de abalar nossa "segura estrutura", a qual construímos desde que nascemos.
Sugiro que pensemos nisso durante a semana... Temos algo que desejamos mudar? O que poderíamos fazer de diferente para sermos mais felizes? Ou ainda, sermos mais livres?
Segue um texto da Martha Medeiros tirado do livro Doidas e Santas de 2008.
"Balançando estruturas
Uma amiga minha vive dizendo que odeia amarelo, que prefere cianureto a usar roupa amarela. Quem a conhece já a ouviu dizer isso mil vezes, inclusive seu namorado. Pois uns dias atrás ela me contou que esse seu namorado chegou em casa e, mesmo os dois estando a uma semana sem se ver, brigaram nos cinco primeiros minutos de conversa e ele foi embora. 'Mas o que aconteceu?', perguntei. 'E eu sei lá', me respondeu ela. 'Estávamos morrendo de saudades um do outro, mas começamos a discutir por causa de uma bobagem'. Eu: 'Que bobagem?'. Então ela me disse: 'Você não vai acreditar, mas ele ficou desconcertado por eu estar usando uma camiseta amarela'.
Ora, ora. Era a oportunidade para eu utilizar meus dons de psicóloga de fundo de quintal. Perguntei para minha amiga: 'Quer saber o que eu acho?'. A irresponsável respondeu: 'Quero'. Mal sabia ela que eu recém havia assistido a uma palestra sobre armadilhas da tão prestigiada estabilidade. Arregacei as mangas e mandei ver.
Você está namorando o cara há pouco tempo. Sabemos como funcionamos esses primeiros encontros. Cada um vai fornecendo informações para o outro: eu adoro rock, eu tenho alergias a frutos do mar, tenho um irmão com quem não me dou muito bem, prefiro campo em vez de praia, não gosto de teatro, jamais vou ter uma moto, não uso roupa amarela. A gente então vai guardando cada uma dessas frases num baú imaginário, como se fosse um pequeno tesouro. São os dados secretos de um novo alguém que acaba de entrar em nossa vida. Assim vamos construindo a relação com certa segurança, até que um belo dia nosso amor propaga as maravilhas de uma peça de teatro que acabou de assistir, ou sugere vinte dias de férias numa praia, ou usa uma roupa amarela. Pô, como dá para confiar numa criatura dessas?
Pois dá. Aliás, é mais confiável uma criatura dessas do que aquela que se algemou em meia dúzia de "verdades" inabaláveis, que não muda jamais de opinião, que registrou em cartório sua lista de aversões. Vale para essas bobagens, e vale também para as coisas mais sérias, como posicionamentos sobre o amor e o trabalho. Mudanças não significam fragilidade de caráter. É preciso ter uma certa flexibilidade para evoluir e se divertir com a vida. Mais ainda: essa flexibilidade é fundamental para manter nossa integridade, por mais contraditório que pareça. Me vieram agora à mente os altos edifícios que são construídos em cidades propensas a terremotos, que mantêm em sua estrutura um componente que permite que se movam durante o abalo. Um edifício que balança! Se ele não se flexibilizar, a estrutura pode ruir.
O fato de transgredirmos nossas próprias regras só demonstra que estamos conscientes de que cada dia aprendemos um pouco mais, ou desaprendemos um pouco mais, o que também é amadurecer. Não estamos congelados em vida. Podemos mudar de idéia, podemos nos representar ao mundo, podemos nos olhar no espelho de manhã e dizer: bom dia, muito prazer. Ninguém precisa ficar desconcertado diante de alguém que se desconstrói às vezes.
Eu também não gosto de roupa amarela. No entanto, hoje de manhã saí com um casaco amarelo canário! Tenho há mais de dez anos e quase nunca usei. Pois hoje saí com ele para dar uma volta e retornei para casa sendo a mesmíssima pessoa, apenas um pouco mais alegre por ter mudado algo, por ter me sentido diferente de mim mesma, o que é vital uma vez ao dia".
Fonte: MEDEIROS, M. Doidas e santas. Porto Alegre: L & PM, 2008. 232p.
Tenham todos uma excelente semana!!!!
A mudança pode ser tanto para situações pequenas, como simples hábitos, ou para situações maiores, que envolvam trabalho, por exemplo. Como é bom ter CORAGEM para mudar o que não está funcionando... O motivo de não conseguirmos mudar pode ser justamente o medo... Temos medo de que o novo possa ser pior se comparado ao o velho ruim ao qual já estamos acostumados, ou ainda, medo de abalar nossa "segura estrutura", a qual construímos desde que nascemos.
Sugiro que pensemos nisso durante a semana... Temos algo que desejamos mudar? O que poderíamos fazer de diferente para sermos mais felizes? Ou ainda, sermos mais livres?
Segue um texto da Martha Medeiros tirado do livro Doidas e Santas de 2008.
"Balançando estruturas
Uma amiga minha vive dizendo que odeia amarelo, que prefere cianureto a usar roupa amarela. Quem a conhece já a ouviu dizer isso mil vezes, inclusive seu namorado. Pois uns dias atrás ela me contou que esse seu namorado chegou em casa e, mesmo os dois estando a uma semana sem se ver, brigaram nos cinco primeiros minutos de conversa e ele foi embora. 'Mas o que aconteceu?', perguntei. 'E eu sei lá', me respondeu ela. 'Estávamos morrendo de saudades um do outro, mas começamos a discutir por causa de uma bobagem'. Eu: 'Que bobagem?'. Então ela me disse: 'Você não vai acreditar, mas ele ficou desconcertado por eu estar usando uma camiseta amarela'.
Ora, ora. Era a oportunidade para eu utilizar meus dons de psicóloga de fundo de quintal. Perguntei para minha amiga: 'Quer saber o que eu acho?'. A irresponsável respondeu: 'Quero'. Mal sabia ela que eu recém havia assistido a uma palestra sobre armadilhas da tão prestigiada estabilidade. Arregacei as mangas e mandei ver.
Você está namorando o cara há pouco tempo. Sabemos como funcionamos esses primeiros encontros. Cada um vai fornecendo informações para o outro: eu adoro rock, eu tenho alergias a frutos do mar, tenho um irmão com quem não me dou muito bem, prefiro campo em vez de praia, não gosto de teatro, jamais vou ter uma moto, não uso roupa amarela. A gente então vai guardando cada uma dessas frases num baú imaginário, como se fosse um pequeno tesouro. São os dados secretos de um novo alguém que acaba de entrar em nossa vida. Assim vamos construindo a relação com certa segurança, até que um belo dia nosso amor propaga as maravilhas de uma peça de teatro que acabou de assistir, ou sugere vinte dias de férias numa praia, ou usa uma roupa amarela. Pô, como dá para confiar numa criatura dessas?
Pois dá. Aliás, é mais confiável uma criatura dessas do que aquela que se algemou em meia dúzia de "verdades" inabaláveis, que não muda jamais de opinião, que registrou em cartório sua lista de aversões. Vale para essas bobagens, e vale também para as coisas mais sérias, como posicionamentos sobre o amor e o trabalho. Mudanças não significam fragilidade de caráter. É preciso ter uma certa flexibilidade para evoluir e se divertir com a vida. Mais ainda: essa flexibilidade é fundamental para manter nossa integridade, por mais contraditório que pareça. Me vieram agora à mente os altos edifícios que são construídos em cidades propensas a terremotos, que mantêm em sua estrutura um componente que permite que se movam durante o abalo. Um edifício que balança! Se ele não se flexibilizar, a estrutura pode ruir.
O fato de transgredirmos nossas próprias regras só demonstra que estamos conscientes de que cada dia aprendemos um pouco mais, ou desaprendemos um pouco mais, o que também é amadurecer. Não estamos congelados em vida. Podemos mudar de idéia, podemos nos representar ao mundo, podemos nos olhar no espelho de manhã e dizer: bom dia, muito prazer. Ninguém precisa ficar desconcertado diante de alguém que se desconstrói às vezes.
Eu também não gosto de roupa amarela. No entanto, hoje de manhã saí com um casaco amarelo canário! Tenho há mais de dez anos e quase nunca usei. Pois hoje saí com ele para dar uma volta e retornei para casa sendo a mesmíssima pessoa, apenas um pouco mais alegre por ter mudado algo, por ter me sentido diferente de mim mesma, o que é vital uma vez ao dia".
Fonte: MEDEIROS, M. Doidas e santas. Porto Alegre: L & PM, 2008. 232p.
Tenham todos uma excelente semana!!!!
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